quarta-feira, 30 de novembro de 2016

MULHER, NEGRA MULHER - Pituka Nirobe

Pituka Nirobe
Contadora de Histórias, conta a sua própria história.


Nasci na Ilha de Marambaia, em 09 de fevereiro de 1959, Ivanir Pereira Tavares, sou filha de Walter de Oliveira Tavares (descendentes dos Negros Bantos vindo de Angola) e Nadir Pereira Tavares (descendentes dos Índios Tupinambás). Família de sete irmãos. É tradição tanto para os povos africanos como os indígenas, adotarem dois nomes o de batismo considerado sagrado, e, por este motivo só pronunciado dentro do clã ou casa = lar, e o segundo nome é o que conhecemos como apelido  dado por vários motivos, desde os mais profundos até o mais banais dos motivos. Eu não seguir as regras do jogo,  aos sete meses de idade comecei a andar surpreendendo a toda família e por esta façanha ganhei o apelido de Pituka, que significa criança veloz na língua Guarany. O apelido foi incorporado como segundo nome desde que me entendo por gente, e hoje, sou Pituka Nirobe nome artístico, Nirobe significa a fusão de Nir de Ivanir obe no Guarany, significa força misteriosa, para os Bantos – língua kimbundo, significa bebida, líquido forte e adocicado, repare que a palavra forte esta nos dois idiomas, porque será?  Vim ao mundo pelas mãos abençoadas de uma maravilhosa negra e velha ex-escrava, a quem todos carinhosamente chamavam de vó Sofia, além de grande rezadeira era maravilhosa orientadora espiritual. Vó Sofia dedicou o resto de sua livre vida ao ofício de trazer ao mundo erês (crianças), assim como eu, muita gerações tinha e ainda tem na figura da velha negra Sofia, uma enviada dos Deuses. Mas o fim chega para todos, num dia triste, que não sei precisar qual, Sofia faleceu aos 105 anos, exatamente no ano que eu completava 10 anos de vida.
Vivi toda minha infância na adorada ilha de Marambaia, em meio à natureza exuberante, convivendo com os Quilombolas, os Caiçaras e os brancos vindos do continente para trabalharem na Fundação Getúlio Vargas, que mantinha a maior escola de pesca da América Latina, além de jovens rapazes vindo de toda parte do Brasil e da América do Sul para estudarem. Completei o primário e admissão na Escola Pública  Levy Miranda a única existente na ilha. Minha casa ficava na praia do saquinho, também chamada praia principal (área da sede da fazenda dos Breves), hoje área reservada da Marinha.
  
Bem desde pequena fui preparada para ser uma akipalô = contadora de histórias na língua Banta ou em Kimbundo ou em outro idioma africano, não me recordo bem à origem do nome, pois os ex-escravos que viviam na ilha provinham de várias nações diferentes, as culturas se fundiram, o fato é que fui iniciada na arte de contar histórias desde meus 07 anos de idade, usufruir de conhecimentos de meus ancestrais, hoje tento transmitir tudo que aprendi de uma forma direta, simples e objetiva.

2 comentários: